Por Tatiane e Lívia
Dermeval Saviani,
durante sua trajetória como educador, voltou-se à diversos projetos e pesquisas
no universo educacional. Uma de suas maiores contribuições tem sido seu
aprofundamento no que diz respeito à análise crítica dos mais diversos
conteúdos correlacionados às disciplinas escolares.
Sua visão
progressista no âmbito educacional foi marcada por suas vivências e
experiências num período de grandes transformações sociais, como a consolidação
da democracia no país e também grande mudança na educação deste.
Este grande educador defendeu e impulsionou a
teoria histórico-crítica que prima pela aprendizagem significativa. Por isso, os conteúdos devem estar contextualizados
a partir da realidade dos educandos promovendo a inclusão social destes. Esta
teoria surge para Saviani, como uma alternativa para modificar a educação na
sociedade capitalista, trazendo a democratização do saber e atendendo aos
interesses populares, ao contrário do que vem acontecendo. A teoria
histórico-crítica é assim chamada, pois para ele, a sociedade tem poder de
interferir na educação e esta teoria leva em consideração estes condicionantes
sociais, por este motivo ela é crítica. Ao mesmo tempo ela é histórica por que a
educação também tem o poder de atuar na sociedade favorecendo sua transformação.
Na obra Educação e
Democracia (1987), com muita clareza e realidade em suas ideias e argumentações,
o autor retrata uma série de falhas e problemas no sistema educacional
brasileiro em diversos momentos históricos e afirma que estas vêm fortalecendo
as desigualdades e privilegiando a classe dominante. Ele também retrata a relação entre a política,
sociedade e educação, fazendo um paralelo entre as teorias da educação.
Neste segmento a
obra traz a tona temas como a exclusão e marginalidade, apontando a educação como
uma poderosa ferramenta para corrigir estes desvios. Conforme Saviani (2005, p.
07):
Nesse quadro, a causa da marginalidade é identificada com a ignorância. É marginalizado da nova sociedade quem não é esclarecido. A escola surge como um antídoto à ignorância, logo, um instrumento para equacionar o problema da marginalidade. Seu papel é difundir a instrução, transmitir os conhecimentos acumulados pela humanidade e sistematizados logicamente.
Para isso é
primordial a elaboração de políticas públicas que garantam a qualidade da
educação. Estas devem contar com a participação de todos envolvidos no processo
buscando alternativas para combater estas falhas a fim de promover o bem-estar
individual e também coletivo, visando o desenvolvimento social.
Ele aponta duas
linhas teóricas: As teorias não-críticas (pedagogia tradicional, pedagogia
tecnicista e a pedagogia nova) na qual dá maior ênfase e as teorias
crítico-reprodutivistas (teoria
do sistema de ensino como violência simbólica, teoria da escola como aparelho
Ideológico de estado (AIE) e teoria da escola dualista).
Saviani faz uso de uma metáfora para explicar
suas afirmações no que diz respeito às tentativas de correções dos desvios do
sistema de educação: “A Teoria da Curvatura da Vara”. Conforme Lênin
(Althusser, 1977, p. 137) "quando a vara está torta, ela fica curva de um
lado e se você quiser endireitá-la, não basta colocá-la na posição correta. É
preciso curvá-la para o lado oposto". E partindo deste princípio dentre
outras teses citadas na obra, Saviani chama atenção para a reflexão quanto ao
processo de tentativas de correção das falhas e desvios da educação brasileira,
enfatizando a necessidade da valorização da reflexão quanto aos conteúdos e
disciplinas estabelecidos para a escola.
Na obra, o autor cita algumas teses sobre
educação e política e nestas afirma que embora possuam conceitos diferentes, são
indissociáveis e interagem entre si. Tanto a educação quanto a política existem
e podem conviver em harmonia, não precisando uma estar subordinada à outra.
A ESCOLA
A escola deve
promover a inclusão dos indivíduos através da aprendizagem significativa. Para isso,
a realidade do aluno deve estar presente nos conteúdos de sala de aula, para
que se faça uma análise crítica desta. O educando também deve ser preparado
para participar ativamente no processo democrático social. Por este motivo a
escola deve buscar maneiras e meios de democratizar o saber e favorecer a
inclusão social do indivíduo, evitando a seletividade. Dessa maneira, poderá
combater a evasão escolar e a marginalização. Saviani também aponta a
importância do Estado no processo educacional participando através da elaboração
de projetos e políticas públicas que contribuam para o processo de
ensino-aprendizagem tanto nas escolas municipais como estaduais.
Seu objetivo maior
é formar cidadãos transmitindo valores éticos e morais a fim de prepará-los para
participar ativamente nas esferas política e social. A educação é para ele um
agente transformador e por isso a escola deve garantir a educação a todos,
atendendo à demanda e interesses da população, por isso o autor relata que a
harmonia entre os envolvidos no processo, inclusive o Estado, é importante para
evitar a marginalidade e para tal deve buscar soluções alternativas para os
desvios do sistema de ensino.
ENSINO
Em sua concepção
de ensino, o saber deve ser construído coletivamente, por isso é imprescindível
a participação de todos os envolvidos no processo de ensino-aprendizagem. Ao
aluno cabe não somente a aquisição do conteúdo, mas a transformação do meio
social no qual está inserido, fazendo deste um local de igualdade quanto às
oportunidades.
Em suas obras “Escola e Democracia” e “Pedagogia Histórico-Crítica”, o autor utiliza várias fontes para fundamentar suas
ideias e ele aponta as teorias não-críticas para fazer um comparativo entre a
educação antiga e a nova educação. Suas argumentações e sua teoria vêm com o
propósito de promover mudanças na esfera político-educacional através da
reflexão e questionamento a cerca da marginalidade, evasão escolar, nas
relações escola-aluno-sociedade.
Contextualizando a
concepção de ensino dentro de uma visão baseada na teoria histórico-crítica dos
conteúdos, ele cita os moldes da educação dentro da pedagogia tradicional, onde
o professor transmite o conteúdo e os indivíduos assimilam o que lhe foi
transmitido. A corrente pedagógica tradicional prevê a escola como um Aparelho
ideológico do estado, ou seja, ela favorece a divisão classista e as
desigualdades. Nesta teoria o professor é o responsável maior pelo processo de
ensino. Seu objetivo é fazer o aluno aprender o que ele precisa ensinar. Neste sentido ele faz uma crítica à esta pedagogia,
pois prima por uma educação que estabeleça a socialização do conhecimento e a
interação dos educandos e professores.
Já na
pedagogia tecnicista, a sistematização dos conteúdos torna o aprendizado
mecânico. Esta visa a profissionalização e especialização dos educandos para a
sociedade capitalista. Em seu relato sobre as teorias crítico-reprodutivistas, menciona
que estas favorecem a permanência das desigualdades sociais e divisões
classistas, pois não propõe mudanças de âmbito pedagógico. E nesse contexto,
afirma que a exclusão cultural é fator agravante da marginalização existente na
sociedade. Para a pedagogia nova, o objetivo do professor é estimular a
produção de conhecimento. Neste segmento, a escola deve se buscar adaptações
quanto à metodologia e recursos, assim fugindo ao ideal de escola proposto por
Saviani, uma vez que não atinge às classes populares. “A escola ideal” proposta
por Saviani, em primeiro lugar deve atender à demanda popular e por isso, sua
proposta vai além de novas metodologias, recursos, dentre outros. O professor
deve buscar novas alternativas para favorecer a aprendizagem, mas estas
alternativas devem ser acessíveis a todos.
Os professores
devem permitir a problematização, questionamento e reflexão nas atividades
propostas em sala de aula. A partir de questionamentos, elaboração de
hipóteses, experimentação, o aluno será capaz de desenvolver habilidades e
competências nas mais diversas áreas do conhecimento. Neste contexto, o papel
do professor é atuar na transformação dos seus educandos, transmitindo conceitos
e valores éticos e morais a fim de torna-los cidadãos conhecedores e detentores
de direitos e deveres que sejam capazes de atuar na transformação da sociedade através
de sua participação ativa.
Saviani conclui que o ensino não se
limita à transmissão de conhecimento, mas é, sobretudo, uma ferramenta que deve
ser utilizada de forma inteligente, propondo atividades que permitam a
resolução de problemas, pois através destas, o aluno pode assumir a
responsabilidade de sua própria capacidade de pensar.
APRENDIZAGEM
A
aprendizagem é processo decorrente das experiências individuais e coletivas que
depende também dos estímulos do ambiente. O grau de aprendizagem é individual e
depende tanto do indivíduo quanto do professor e do meio. Além disso, o autor
aponta uma série de fatores externos como agravantes para o fracasso escolar.
Aspectos negativos na vida do indivíduo, como por exemplo, saúde, moradia,
fatores psicológicos, familiares, emocionais, dentre outros, certamente
influenciarão no seu processo cognitivo e estes são muitas vezes responsáveis
pelo fracasso escolar.
Partindo do
princípio de que todos devem ser incluídos socialmente, a aprendizagem deve
fugir aos padrões excludentes e seletivos do sistema de ensino brasileiro ao
longo destes anos. Para que haja uma
aprendizagem significativa, a realidade do aluno deve estar presente nos
conteúdos e atividades propostas em sala de aula para que estes sejam motivados
a refletir, pensar, questionar tal realidade bem como se tornar responsáveis
pelas posturas e posicionamentos diante dos conflitos e desafios da vida.
Sobre o autor:
Dermeval
Saviani afirma que a escola deve estar sempre conduzindo uma postura “relativizadora”
nos indivíduos, evitando a discriminação e preconceito. Para isso, a
aprendizagem no ambiente escolar não deve se limitar à aquisição dos conteúdos
curriculares, mas deve ir além, possibilitando a formação de cidadãos éticos,
críticos, questionadores e que participem ativamente na sociedade e suas
decisões. Dermeval Saviani nasceu em 25 de dezembro de 1943, em Santo
Antonio de Posse, município de Mogi Mirim, no Estado de São Paulo.
Formou-se em filosofia pela PUC-SP em 1966, é doutor em
filosofia da educação (PUC-SP, 1971) e livre-docente em história da educação
na UNICAMP (1986) , tendo realizado “estágio
sênior” na Itália em 1994-1995.
De 1967 a 1970, lecionou em cursos colegial e normal.
Desde 1967, também é professor no ensino superior. Foi membro do Conselho
Estadual de Educação de São Paulo, coordenador do Comitê de Educação do CNPq,
coordenador de pós-graduação na UFSCAR, PUC-SP e UNICAMP, professor titular
colaborador da USP ( Ribeirão Preto) e sócio fundador da ANPED ( Associação
Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação) , CEDES ( Centro de Estudos
Educação &Sociedade ) , CEDEC ( Centro de Estudos de Cultura Contemporânea)
e SBHE (Sociedade Brasileira de História d Educação), da qual foi o primeiro
presidente.
Foi condecorado com a medalha do mérito educacional do
Ministério da Educação e recebeu da UNICAMP o prêmio “Zeferino Vaz” de produção científica.
Autor de grande número de trabalhos publicados,
atualmente é professor emérito da UNICAMP e coordenador geral do Grupo Nacional
de Estudos e Pesquisas “História, Sociedade e Educação no Brasil.”
Em 2008, venceu o prêmio Jabuti na categoria Educação,
Psicologia e Psicanálise com o livro “História das ideias pedagógicas no Brasil”.
Saviani é um respeitado educador que teve sua trajetória
de sucesso marcada, inclusive, por ser um dos principais fomentadores da teoria
histórico-crítica, também conhecida como
crítico-social dos conteúdos, que tem como objetivo principal a relação e
transmissão de conhecimentos significativos que contribuam para a inclusão
social do educando.
Os acontecimentos histórico-políticos que
marcaram a educação brasileira sempre nortearam o pensamento de Saviani, que em
todas as suas obras, preocupou-se em analisar a prática educacional inserida num
processo político-social.so
· Principais Obras de Dermeval Saviani:
·
Escola e Democracia, São Paulo: Cortez
Autores Associados, 1986
·
Educação - Do Senso Comum a Consciência Filosófica, São Paulo: Cortez
Autores Associados, 1980.
·
Ensino Público e Algumas Falas sobre Universidade, São Paulo: Cortez
Autores Associados, 1985.
·
Sobre a Concepção de Politécnica Rio de Janeiro:
Fundação Oswaldo Cruz, 1989
·
A Pós-Graduação em Educação no Brasil, Florianópolis/São
Paulo: UFSC/Cortez, 2002
·
A Questão Pedagógica na Formação de Professores, Florianópolis:
Endipe, 1996
·
A Nova Lei da Educação-Trajetória, Limites e
Perpectivas, Campinas: Autores Associados, 1999
·
Pedagogia Histórico-Crítica, primeira aproximações, Campinas: Autores
Associados, 2000
·
Política e Educação no Brasil-O Papel do Congresso
Nacional na Legislação do Ensino, São Paulo, Cortez, 1987
·
Da Nova LDB ao Novo Plano Nacional de Educação-Por
Uma Outra Política Educacional, Campinas, Autores Associados, 1998
Referências:
SAVIANI, Demerval. Escola e Democracia. 34. ed. rev.
Campinas, Autores Associados, 2001. (Col. Polêmicas do Nosso Tempo; vol. 5). 94
p.
SAVIANI, Demerval. Pedagogia Histórico-Crítica: Primeiras Aproximações. 7.ed. Campinas, Autores Associados, 2000. (Col. Polêmicas do Nosso Tempo; vol. 40). 122 p.
Achei bom.
ResponderExcluirOTIMO!!!
ResponderExcluirMuito bom!
ResponderExcluirBom
ResponderExcluirBom
ResponderExcluirBom
ResponderExcluirbem produtivo me ajudou...
ResponderExcluirParabéns pelo texto! Está bem escrito e ao mesmo tempo didático. Vou recomendá-lo a meus colegas, pois assim como foi útil a mim espero que seja também para muitos outros.
ResponderExcluirMe ajudou, legal...obrigado
ResponderExcluirParabéns pelo trabalho. Muito bem elaborado.
ResponderExcluirEXCELENTE!!!!!!!!!
ResponderExcluirExcepcional!
ResponderExcluirInteressante. Obrigada.
ResponderExcluirGostei muito do material, mas preciso das 5 competências de Demerval Saviani
ResponderExcluirBah!!! Muito bom mesmo.
ResponderExcluirRidículo ,sistema não vai dar certo e não está dando.apenas ensinamentos clássicos e filosofia perene pode ajudar .
ResponderExcluirPrimeiramente, acredito que a sua conclusão (de que não está dando certo) parte de uma crença equivocada: que HÁ EM TODAS AS ESCOLAS O SISTEMA CITADO. Ledo engano. Se olharmos para as escolas públicas, de rede municipal, principalmente, veremos a inexistência de tal sistema, visto que nenhum aluno saberá dissertar sobre o que significa isso.
ExcluirPortanto, ratifico uma posição contrária a sua: AINDA É VIGENTE UM SISTEMA DE ENSINO-APRENDIZAGEM MECÂNICO, DE REPETIÇÃO, DE MEMORIZAÇÃO, SEM REFLEXÃO-CRÍTICA, DE AUTOCONHECIMENTO, DE AFETIVIDADE. INFELIZMENTE!!!
Além disso, preciso ainda dissertar sobre o que você disse acerca de ensinamentos filosóficos: se notarmos, o ensino de filosofia está, da maneira mais descarada possível, sendo excluído das escolas. Por quê?
grande crítico da história da educação no brasil
ResponderExcluirExcelente!
ResponderExcluirMe ajudou e muito, obrigada
ResponderExcluiramei esse blog, vou indicar para a minha equipe nocolegio zona norte sp, espero que curtam também
ResponderExcluirexcellent
ResponderExcluirquais artigos eu poderia citar em um mapa conceitual?
ResponderExcluirEu posso usar esse material, como trabalho de faculdade ou vou ser acusada de plagil.obrigado
ResponderExcluirExcelente!
ResponderExcluirExcelente!
ResponderExcluirParabéns a equipe do blog!